Olá amigos e colegas!
Gostaria de agradecer sua amizade e contar mais um capítulo da minha história.
Pra quem ainda não me conhece, sou Escritor e Administrador de Empresas e estive há pouco tempo visitando um novo continente, cuja cultura local em relação à nossa cultura é tão igual e diferente ao mesmo tempo. Angola, em África é um país de língua portuguesa, que foi colônia extrativista de Portugal assim como o Brasil, mas acaba de sair de uma guerra civil tendo mais a ver com o nosso país do que se pode imaginar. Lar dos escravos que construíram o Brasil, Angola ainda mantém como marco histórico o ponto de onde partiam escravos Africanos com destino ao novo continente. Fruto de Deus, Angola é um país rico em recursos naturais como petróleo ferro e diamante, assim, tem fortes laços comercias com China, Portugal, Brasil, e seus vizinhos de África. Uma imensidão de dinheiro circula pelo país, que protege sua moeda local, o Kwanza e vê nos acordos bilaterais a expansão dos seus negócios e o crescimento de suas cidades. Praticamente devastada pela uma longa guerra civil que estagnou o desenvolvimento do país e da população, Angola ainda preserva suas raízes comunistas e aparentemente está encarando com força a luta contra a miséria, a fome e as doenças, especialmente através de ações governamentais. Infelizmente neste país a corrupção também dá seus ares da graça, aparecendo em jornais e noticiários, mas principalmente vista na paisagem local e comentada na boca do povo.
Quer saber como é que vive o Angolano? Para isto é preciso trocar o nosso chip e transformar em pensamento a nossa própria realidade. Imagine então viver em Campo Largo, com vista para as montanhas, então agora exploda todas as indústrias do país e comece a importar tudo o que você precisa consumir para sobreviver. Derrame uma chuva de lixo, são mais de trinta anos de lixo acumulado nas ruas e em toda paisagem. No inverno tire a água e a vida da metade de seus rios, no verão saia de perto dos leitos secos e prepare-se para a enxurrada de água e lixo vindo do interior, bem ao nível desastre do Rio de Janeiro. Esqueça a água encanada, ela possivelmente não chegou ao seu lar, que é construído de barro úmido do leito do rio seco ou de blocos de concreto feitos artesanalmente no fundo do quintal. Seu lar, coberto de telhas de zinco que são fixadas com pedras, além de não ter água nem luz elétrica não tem saneamento básico, ou seja, não tem esgoto. Faça então uma valeta no chão duro e compactado, sem capacidade de absorver a água, derrame na valeta sua sujeira que se ajunta à dos vizinhos numa valeta mais larga e profunda, no meio da rua principal da sua vila, local em que brincam seus oito filhos pequenos de represa no esgoto ou de caça ao tesouro no lixão. Enquanto isso as mulheres andam com bacias na cabeça e crianças amarradas pelas costas com um pano estampado, em geral são vendedoras ambulantes, são milhares. As crianças nas escolas levam seus banquinhos e o quadro é pendurado em uma árvore a paisagem é o lixão, e a miséria. Nos espaços juntam moscas que caminham nas pessoas e crianças deitadas pelo chão, tirando uma soneca ou vendendo alguma coisa. O sol é escaldante, a terra é árida e deserta. Também nunca se esqueça da guerra que destruiu famílias e deixou seqüelas em toda a cidade, a paisagem está marcada por doenças e destruição. Acostume-se com as metralhadoras, pois elas estão na mão de muitos, inclusive nas mãos de crianças. Aviões militares, caças de origem Russa, sobrevoam a cidade enquanto guardas e vigilantes passeiam armados na caçamba de camionetes à procura de ação. Você vive com medo. Seus irmãos morrem de fome ou de doenças enquanto seu vizinho anda de Jeep ou de Ferrari. Você também tem carro? Ótimo, a gasolina e o diesel são baratos e os carros são de alto padrão, muitos importados de Dubai. Contudo, geralmente o carro que você usa não é seu, é do patrão que além do carro te deu uma casa e um salário, assim é possível ter uma vida mais digna. Em Angola a concentração de toda a riqueza divide-se nas mãos de muito poucos, não mais do que uma dezena, entre eles o presidente e sua prole, que contratam trabalhadores escolhidos a dedo, para conquista de seus próprios interesses. Inexistem as classes sociais, ou se é muito rico, ou se é miserável, neste meio estão os que usufruem um pouco mais do dinheiro dos ricos e aparentam ser a classe média, entretanto continuam miseráveis. Agora se pergunta: Como é que vive um povo desses? Na verdade esse povo não vive, vence! A expectativa de vida não passa dos 45 anos e a mortalidade infantil é absurda, contudo com o fim desta guerra a situação do povo tende a melhorar isto se a corrupção e os interesses pessoais não impedirem.
Mas o que é que Campo Largo, que está a milhares de quilômetros de distância tem a ver com toda esta barbárie Africana? Tudo! Campo Largo em primeiro lugar é a Capital Nacional Louça e é em pratos campolarguenses que comem milhões de pessoas em Angola. Em África se encontra pratos e outros utensílios fabricados em nossa cidade, sorte daqueles ainda, que podem comprar jogos de jantar e xícaras folheadas a ouro ou apenas decoradas com decalques. Angola um país onde muitos comem em latas pela falta de um prato, fenômeno que também ocorre com grande intensidade no Brasil, passear pela rua e encontrar produtos feitos pelas mãos de cidadãos campolarguenses é no mínimo gratificante. Do outro lado do mundo, sentar à mesa e agradecer pelo alimento não foi suficiente, agradeci também pelo prato, que ora era da Germer, ora da Schmidt eu então Studio Tacto, que lá também combatem o espaço com produtos chineses. Pode não parecer, mas num recente estudo ficou comprovado que o setor cerâmico de Campo Largo emprega mais de vinte e cinco por cento de toda mão-de-obra disponível no município, o que contribui para o desenvolvimento sustentável não só de Campo Largo, mas também do Brasil, gerando empregos e renda na própria cidade. Diante de tantas pessoas que ainda têm necessidade de comer em latas, o produto cerâmico de Campo Largo mostra seu valor na construção de uma vida mais digna, no âmbito local e internacional. Com esta forma de pensar é impossível dizer que o produto campolarguense tem pouca chance de sucesso no combate ao produto chinês e no rompimento de barreiras para sua produção e comercialização. Infelizmente como ficou comprovado no mesmo estudo citado anteriormente, o Arranjo Produtivo Local (APL) de Louças e Porcelanas de Campo Largo não vêm recebendo a devida atenção dos órgãos públicos locais, que recebem dinheiro do governo federal e não investem na tecnologia e na inovação.
Campo Largo é uma cidade maravilhosa, tanto se comparada com cidades Angolanas quanto se comparada à própria capital do estado, não sendo à toa que nossa cidade é a melhor opção em qualidade de vida próxima de Curitiba. Falar coisas bonitas é muito fácil, eu vejo então que o difícil é ter vontade e aplicar tudo o que se imagina em prol de uma vida melhor. Lembro para que aconteça uma melhoria de vida precisamos banir dos corações o orgulho e o egoísmo deve-se pensar numa esfera de coletividade e buscar a felicidade na perspectiva de um futuro melhor, mais digno e mais humano. Da mesma forma que é possível progredir para o melhor também pode acontecer o pior e regredirmos no nosso desenvolvimento. Precisamos dar mais valor à nossa moral, que deve ser fazer as coisas boas da melhor maneira possível. Deve-se sempre valorizar a nossa região e não esquecer nunca de nossas raízes.
Muito Obrigado!
Força Campo Largo por um futuro melhor!